quinta-feira, maio 9, 2024
ARTIGOS

O Patriotismo e o cristão

Recentemente, eu e meu amigo que também é pai educador, Wesley Ayres, iniciamos um projeto de literatura com um grupo de aproximadamente 370 pessoas. Nesse projeto, chamado Rota Literária, estamos lendo um clássico de George Orwell, 1984. O tema principal desse livro é o totalitarismo e os subtemas aparecem para criticar a falta de liberdade, a duplicidade de pensamentos e a maneira como o estado totalitário tenta mudar ou apagar o passado. Na última reunião, uma das perguntas que surgiram foi a definição de patriotismo.

Nos lugares onde os governos foram ou são totalitários, os governantes incentivam seus cidadãos a amarem o partido mais do que eles amam a pátria. E essa é uma ação proposital, já que a única motivação aceita pelo partido, pelo estado, é manter o poder. Enquanto falávamos sobre isso, um dos participantes, aos quais chamamos de peregrinos, questionou a validade do patriotismo num mundo globalizado e, também, para cristãos que são peregrinos nesse mundo, ou seja, em última análise, cidadãos do céu.

Por causa dessa conversa, então, decidi usar os 5 Tópicos Comuns da Invenção, ferramenta da educação clássica, para estudar mais sobre esse tema.

A definição do dicionário de patriotismo nos diz que ele consiste em um amor pela nação por causa de seus valores e crenças. Em nossa conversa com os peregrinos, adicionamos também lealdade e respeito. Muitas pessoas confundem o patriotismo com nacionalismo e, apesar de ambos estarem ligados à nação, são bem diferentes! Porque o que vemos no nacionalismo é um interesse pela unificação de uma nação com base em suas características linguísticas e culturais.

O nacionalismo pode passar a ideia de que um país é superior a outro em todos os aspectos e, portanto, é descrito como o maior inimigo da paz, segundo George Orwell. Patriotismo, no entanto, não pavimenta caminhos de inimizade em relação a outras nações, enquanto fortalece a admiração de um indivíduo por seu próprio país, dizia o autor. Enquanto o patriotismo tem suas raízes na afeição, o nacionalismo tem suas raízes na rivalidade e no ódio. O substrato do patriotismo é a paz enquanto o nacionalismo tem como base a inimizade. Em sua maneira de pensar, o nacionalista acredita que seu país é melhor do que qualquer outro. Já o patriota acredita que seu país é muito bom e que pode melhorar com esforço e trabalho duro.

O nacionalismo é mais praticado e demonstrado durante tempos de conflito, embora encontremos nações ao redor do mundo que, por causa de sua ideologia ou religião, são inerentemente nacionalistas. Eles acreditam  ser melhores do que o resto do mundo não porque admiram e amam o que sua própria nação representa (fato demonstrado pela imigração massiva e constante originária desses países), mas porque odeiam as outras nações que têm princípios e religiões diferentes. O patriotismo, por outro lado, impulsiona os cidadãos a buscarem o que é melhor para seu próprio país e a trabalharem para alcançar esse fim. Países de primeiro mundo têm experimentado uma crescente decadência nas últimas décadas porque as recentes gerações têm deixado de lado o amor e o respeito pela própria pátria e, mais do que isso, não ensinam seus filhos a respeito disso.

Como cristãos, usamos a Bíblia como regra de fé e prática para tudo o que fazemos e na maneira como agimos. Nós sabemos que Jesus está preparando um lugar para nós e, também, que não pertencemos a esse mundo, que somos forasteiros aqui. Ao mesmo tempo que temos plena convicção dessa verdade maravilhosa, temos um compromisso de sermos a luz do mundo e de vivermos de acordo com os preceitos da Palavra do Senhor, não somente para nosso bem, mas, também, para o bem do lugar onde estamos. Vemos isso em Jeremias 29.4-6, que diz o seguinte:

“Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel, a todos os exilados que eu deportei de Jerusalém para a Babilônia: Edificai casas e habitai nelas; plantai pomares e comei o seu fruto. Tomai esposas e gerai filhos e filhas, tomai esposas para vossos filhos e dai vossas filhas a maridos, para que tenham filhos e filhas; multiplicai-vos aí e não vos diminuais.”

Essa passagem bíblica fala especificamente de uma nação, da maneira como cristãos devem se comportar em relação ao local onde estiverem vivendo. Não apenas buscando a paz, mas também instituindo suas famílias e fazendo diferença naquele lugar. Para entendermos ainda melhor esse conceito, precisamos também ler o Salmo 128:

“Bem-aventurado aquele que teme ao Senhor e anda nos seus caminhos! Do trabalho de tuas mãos comerás, feliz serás, e tudo te irá bem. Tua esposa, no interior de tua casa, será como a videira frutífera; teus filhos, como rebentos da oliveira, à roda da tua mesa. Eis como será abençoado o homem que teme ao Senhor! O Senhor te abençoe desde Sião, para que vejas a prosperidade de Jerusalém durante os dias de tua vida, vejas os filhos de teus filhos. Paz sobre Israel!”

O que vemos nesse Salmo é a bênção do Senhor sendo estendida e ampliada do contexto da família, do núcleo familiar, para o contexto da área (Sião), expandindo-se para o contexto da cidade (Jerusalém) e, por fim, a todo o país, de forma a trazer paz (Paz sobre Israel) sobre a nação. A bênção do Senhor para seu povo consiste, também, em que vejam a prosperidade do lugar para onde Deus mesmo os desterrou através da pregação contínua do Evangelho e de uma vida piedosa.

Quando vivemos assim não o fazemos porque temos a ilusão de que teremos um mundo perfeito, como o descrito na música Imagine, do John Lenon. Tudo o que fazemos, a maneira como vivemos é, antes de tudo, para que o nome de Deus seja glorificado e, em segundo lugar, para que sejamos luz nesse mundo tenebroso.

Devemos buscar viver em paz com todos? Sim! Sem dúvida. Romanos 12:17 nos diz isso. É possível ter verdadeira paz no mundo fora do Evangelho? Não! Todo fragmento de paz que experimentamos no mundo é produto da graça comum de Deus, e a única maneira de sentirmos paz verdadeira é sob a graça especial de Deus, em Jesus. Por essa razão, como cidadãos temporários dos lugares para onde Deus nos manda, devemos buscar a paz com nossas ações sociais e, principalmente, com a pregação do Evangelho da paz: coisa que só podemos fazer individualmente, de corpo presente e em sinal de obediência à ordem direta de Jesus de “ir por todo mundo e pregar o Evangelho a todas as nações.” Podemos mandar dinheiro para missões, ajudar missionários a pregar a palavra através do sustento, mas nada disso substitui nossa obrigação individual de fazer o que Jesus mandou. Já que não há paz sem o Evangelho, a única maneira de sermos cidadãos da terra para onde fomos desterrados (de maneira temporária), é cumprindo individualmente (e em família) o mandamento de Jesus, amando o lugar onde Deus nos colocou o suficiente para agirmos e, também, educarmos nossos filhos a respeito da necessidade do patriotismo que impulsiona ao evangelismo e ao trabalho para o bem daquele local.

O lugar onde estamos é o nosso “país,” sim, mas, acima de todas as coisas, é o nosso campo missionário. Nesse lugar, temos oportunidade de levar a Palavra às pessoas que estão ao nosso redor e de buscar a paz, servindo como cidadãos temporários, amando essas pessoas com amor misericordioso que estende a graça e a esperança do Evangelho em todo o tempo, como consequência natural de se viver uma vida para Deus.

O cristão precisa ter uma visão correta a respeito do patriotismo e, não apenas isso, mas ele precisa transformar seu conhecimento em ação através de seus próprios atos de serviço e evangelismo e, também, através da maneira como educa seus filhos e recebe, então, a bênção do Senhor para abençoar sua casa, seu bairro, sua cidade, estado e, por fim, seu país. Fazemos isso contínua e fielmente até aquele dia em que Jesus voltará e viveremos com ele para sempre em nossa morada celestial.

Por fim, enquanto fazemos isso, devemos ansiar por nossa Pátria celestial todos os dias da nossa vida porque lá, sim, teremos a paz que nosso entendimento limitado não consegue nem começar a compreender.

Ah, que amemos nossa Pátria celestial mais do que qualquer coisa! Ah, que esse amor nos impulsione a amar o lugar onde estamos temporariamente, de tal forma que não descansemos enquanto não fizermos tudo o que está ao nosso alcance para espalhar a boa notícia da Salvação, o Evangelho de Jesus, que traz paz e redenção para todos ao nosso redor.

FASE RETÓRICA

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