quinta-feira, maio 9, 2024
ARTIGOS

Afinal, é latente ou patente?

Sim. Todo dia é dia de insight. Os professores que o digam. Antes de começar esta série, deixe-me contar uma história pra você. Logo no começo do magistério, entendi que a melhor forma de explicar as palavras não é falando sobre seus significados e definições, mas contextualizando-as, ou seja, vendo como essas palavras funcionam na prática.

Como sempre colecionei todos os caderninhos e mini agendas que meu marido ganha em Congressos, e também pela praticidade de poder levá-los em qualquer bolsa para qualquer lugar (sem o risco de acabar a bateria, inclusive a bateria reserva), comecei a escrever insights sobre dicas de português, de educação, reflexão de vida, enfim, tudo o que pudesse acrescentar ao meu dia e de outras pessoas (acreditem até a minha dissertação de mestrado comecei estruturando em um caderninho desses). E se pensarmos bem, durante o dia, temos vários momentos ociosos, é na espera de uma consulta, em uma viagem mais prolongada, mas a cabeça não para. E é exatamente nesses momentos de relax que vêm os insights. O insight nada mais é do que o resultado de um processo criativo, algo que você não havia imaginado, e de repente como um sinal luminoso surge em sua mente. E na mesma rapidez que explode num feixe de luz, some quase que instantaneamente sem deixar pistas, registrar é preciso.

Por isso, estamos iniciando a série #insightsdagaba, que você poderá seguir por aqui, ou acessar no meu canal do YouTube, que leva o mesmo nome Insights da Gaba. Leia até o fim, e descubra o insight de hoje!

Dentre as muitas atividades que nos são propostas durante o curso de mestrado, está a participação em quantas defesas pudermos comparecer, a fim de avaliar todo o protocolo da cerimônia, técnicas de apresentação, a argumentação do mestrando/doutorando, a abordagem da banca… Bom, era pra ser assim…mas a gente se pega olhando e pensando alto: Meu Deus, não tinha uma roupa mais discreta?! Ou: Que cabelo é esse?! Por que gesticula tanto?! E por aí vai.

Na ocasião, a tese a ser defendida era muito interessante, tratava do efeito da globalização no texto de poetas urbanos contemporâneos. Apresentação impecável, os 20 min muito bem distribuídos entre teoria e exemplos bem empregados.  Enfim, haveria de ser uma defesa e tanto!

Exposição feita com total conhecimento do tema e segurança, até que um dos membros da banca começa a relatar suas primeiras impressões acerca do trabalho e, sem dó e nem piedade, invalida justamente os dois capítulos que sustentavam a tese do trabalho, a saber: a globalização presente nos textos daqueles poetas.

Dali em diante, não sei se por um descuido, falta de conhecimento, ou puro nervosismo, a mestranda se empoderou com os seguintes argumentos: a globalização é tão latente nesses poetas que seus textos são escritos em vários idiomas, sobressaindo o inglês (…); todos os textos deixam latente a intenção do poeta de introduzir a língua estrangeira como visceral a nossa cultura (…); o ser global não está latente somente no uso da língua estrangeira, mas principalmente na citação de autores mundialmente consagrados (…). E não parou por aí, latente era a mais nova palavrinha em seu dicionário.

Naquele momento, eu, que estava sentada na primeira fileira, olhava incisivamente para a mestranda e fazia a leitura labial, já sussurrando: Patente! Vi que ela não percebeu, depois soletrei como uma ventríloqua: PA-TEN-TE, e nada (desesperador). Pensei em levantar uma plaquinha, mas percebi que minha inquietação já começava a atrapalhar a exposição da aluna, eu, frustrada, desisti.

Agora, imagine você a defesa de uma tese ser derrubada pelo uso errado de uma única palavra. A grande maioria do público ali era aspirante a mestre, e na aula seguinte deveríamos apresentar à professora de metodologia de pesquisa nossas observações.

Chega então o momento em que a professora se dirige a mim: E, então, Gabriela, o que achou? E eu disse: professora, desculpa mas tudo ia muito bem, até que não consegui prestar atenção em mais nada, pois vi que a mestranda trocava patente por latente! Pra minha surpresa, quase ninguém havia percebido.

E é nessa hora que eu me pego pensando no som da palavra latente. E logo chego à conclusão de que, certamente, a confusão foi feita pela semelhança fonética com o verbo latejar, ou seja, aquilo que pulsa, que palpita. Então, o que ela tentava dizer era que a globalização pulsava naqueles poetas. Mas que fique claro latente não tem nada a ver com latejar ou latejante.

latente = que não se manifestou, permanece oculto, adormecido.

O porquê de “latente” ser usado no lugar de patente, já entendemos. Mas por que resistimos tanto a usar “patente”?

Porque patente pode ser:

1°) Um título oficial de uma concessão ou privilégio (a). Ou pode se aplicar também à hierarquia militar (b):

(a) Ele patenteou o produto.

(b) Aquele militar tem a patente de coronel.

2°) Aberto, acessível, evidente, manifesto, franco (e era a este significado que a mestranda tentava se referir, sem êxito)

Está patente que isso é um erro.

3°) Vaso sanitário ou privada, mais comumente utilizado na região Norte do Paraná. Esse termo surgiu porque era a forma como as pessoas mais simples de Londrina liam a frase Patented, impressa nos vasos sanitários que eram fabricados na Inglaterra.

Para acabar de vez com a dúvida, olha o insight do dia:

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Me fale se você também já trocou patente por latente e vice-versa. Comente o insight do dia, é real pra você? Compartilhe aqui qual seria o seu insight usando essas duas palavras! O melhor insight vai virar frase de quadro! O desafio está lançado!

One thought on “Afinal, é latente ou patente?

  • Esther

    É patente que a busca do conhecimento ainda está latente na maioria das pessoas.

    O que está patente nas atitudes nem sempre é o que está latente no coração. (Ex Beethoven anti-social x Beethoven surdo)

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