Colocando as ideias em ordem!

“O que é escrito sem esforço em geral é lido sem prazer.” Samuel Johnson

Sempre vi a escrita como um exercício de autoconhecimento, e acredito também que, para colocar a vida em ordem,  precisamos iniciar essa organização com um bom mapa mental, que passa pelo campo das ideias, é lógico.  Após 20 anos lidando com todo tipo de texto e ajudando pessoas a escreverem seus próprios textos, aprendi  que a escrita vai muito além da habilidade intelectual de argumentar, persuadir, estruturar conceitos, ter uma boa correção gramatical, digo muito, muito além… Atuando por muitos anos na consultoria textual, especificamente na revisão de textos, logo entendi que a escrita fala muito de nós mesmos mais do que imaginamos, e o feedback dos clientes sempre vem das formas mais inusitadas: muito obrigado; você me deu um norte; agora sei qual é minha missão; você é uma psicóloga! Tudo o que faço é de forma muito intuitiva, pois entendo que a minha missão por meio da escrita vai muito além do texto. E nesse processo de autoconhecimento escrever é preciso. Nunca esqueço de uma escritora best-seller que teve muitos problemas na adolescência, e o pai, um grande cineasta, em  meio ao turbilhão de sentimentos daquela fase da vida, lhe deu o seguinte conselho: escreva! Em um dos vários  cursos de escrita que participei, havia uma citação gravada na parede da sala de aula que procurei gravar no coração:

“Quem escreviver, verá”. É isso aí, em outras palavras…Penso, logo escrevo ou Escrevo, logo existo!

No post de hoje, quero trocar algumas ideais com você que podem de fato te ajudar a organizar o seu texto (quiçá a vida)!

Pensar vem antes de escrever

Começar a escrever o texto pela primeira linha não costuma ser uma boa estratégia. Quem começa assim acaba enchendo o cesto de lixo com folhas amassadas quase em branco. Como tudo na vida, para redigir também precisamos de um roteiro. Redigir seguindo um roteiro é mais produtivo e mais profissional.

A produção do texto fica mais fácil, quando se lista e ordena as ideias antes de começar a redigir.  Separe um tempo especial para pensar, fazer anotações e reunir materiais de consulta.

Material bruto: a lista de ideias

Quando pensamos sobre um assunto, nossa mente parece um turbilhão de ideias que se cruzam, se repetem, somem de repente. Pensar é mais rápido que falar e anotar. Anote o que puder, de preferência em forma de lista.

Não perca tempo se lastimando, porque uma ideia genial sumiu de repente, antes de você anotar. Ela continua em sua mente. Continue registrando as outras ideias que vão surgindo ao longo do caminho. Calma, aquela ideia especial, à qual chamo de insight, não vai demorar muito a reaparecer, a prática da escrita o ajudará nisso!

Em vez de pressa, rapidez

Procure fazer uma lista completa de ideias. Não tenha pressa nem se contente com três palavrinhas escritas numa folha. Em vez de ser apressado para terminar logo, concentre-se em ser rápido para anotar os insights.

Na hora de pensar, algumas pessoas tendem a se distrair em vez de se concentrar. Para não dispersar a atenção, evite falar ao telefone, ver televisão e conversar. Um intervalo de cinco minutos, sem palavras, pode ser mais eficiente.

Olhe pela janela, procure um ambiente que lhe seja confortável, regue as plantas, faça um desenho, feche os olhos, apoie a cabeça sobre os braços, como se fosse dormir. Experimente, procure descobrir a melhor maneira de se concentrar.

Recomece em seguida sua lista de ideias. Quase sempre, a simples listagem das ideias já faz surgir o estímulo para prosseguir.

Observe o brainstorming de uma redatora que precisava escrever sobre o hábito de fumar:

• fumar não é nada feminino
• meu pai fede
• tem gente que gosta
• tem gente que acha chique
• incomoda os outros
• dá doenças
• a primeira vez é bem ruim
• o Ministério da Saúde adverte
• saiu reportagem legal na revista Fluir
• custa caro
• proibir limita a liberdade individual
• problema de engordar
• tratamento resolve?
• é droga?
• remédios adesivos
• tratamento em grupo
• tem poluição, por que parar?
• vou morrer mesmo
• ansiedade, como fica?
• ajuda a relaxar 
• não quero engordar
• suicídio sem pressa
• e o prazer do hábito?
• lucro dos fabricantes

Material organizado: ideias reunidas por temas

Uma lista desordenada de ideias não serve como roteiro para escrever. Será necessário cortar algumas, agrupar outras por assunto e registrar novos elementos que forem surgindo.

Nessa etapa, a redatora de nosso exemplo, observou sua lista sobre o tabagismo. Cortou a ideia repetida sobre engordar, cortou a ideia de que a primeira vez é ruim. Substituiu uma expressão muito pessoal (meu pai fede) por uma afirmação mais geral: o cheiro dos cigarros fica na pele, nos cabelos e no hálito.

Novas ideias foram acrescentadas à lista: será que há uma Associação de Fumantes Anônimos?, histórias de quem parou. Percebeu que precisava de mais informações e acrescentou perguntas sobre quem fuma mais e quais doenças provocadas por cigarro matam mais.

Veja como ficou a segunda lista:

•  fumar não é nada feminino 
•  o cheiro do cigarro na pele, nos cabelos, no hálito 
•  tem gente que gosta 
•  tem gente que acha chique 
•  incomoda os outros 
•  dá doenças 
•  o Ministério da Saúde adverte 
•  custa caro 
•  proibir limita a liberdade individual 
•  tratamento resolve? 
•  é droga? 
•  remédios adesivos 
•  tratamento em grupo 
•  tem poluição, por que parar? 
•  vou morrer mesmo 
•  ansiedade, como fica? 
•  ajuda a relaxar 
•  não quero engordar 
•  suicídio sem pressa 
•  e o prazer do hábito? 
•  lucros dos fabricantes 
•  fumantes anônimos 
•  histórias de quem parou 
•  quem fuma mais 
•  o que mata mais? Câncer, enfisema etc.

Prosseguindo seu trabalho, a redatora juntou o que se referia à prevenção e o que tratava da cura. Reuniu fatos sobre os malefícios do fumo e ideias culturais  sobre a questão. Em outros blocos, foram agrupadas as desculpas para continuar fumando, os interesses dos fabricantes e as atitudes do governo.

Veja como ficaram as ideias organizadas por assunto:

Informações Gerais:

É droga? / dá doenças / o cheiro de cigarro na pele, nos cabelos, no hálito / custa caro / quem fuma mais / o que mata mais? Câncer, enfisema etc. / incomoda os outros (fumantes passivos) / engorda? / relaxa mesmo?

Argumentos de quem não quer parar:

Proibir limita a liberdade/ tem poluição, por que parar? / vou morrer mesmo / o prazer do hábito / ansiedade, como fica? / ajuda a relaxar / não quero engordar / tem gente que acha chique / fumar não é nada feminino

Posição dos fabricantes: 

Lucros dos fabricantes / publicidade associada a esportes e artes

Tratamento:

Que tratamento resolve? / remédios adesivos / tratamento em grupo / Fumantes Anônimos / histórias de quem parou

Prevenção:

O Ministério da Saúde adverte / o que mais tem sido feito? / os jovens?

A partir desse agrupamento de ideias, a redatora vai construir o roteiro definitivo.  Se ela supõe que o público leitor já é bem informado sobre as doenças associadas ao cigarro, não se estenderá sobre o assunto ou poderá até eliminá-lo. Para outro público, poderia ser importante esclarecer a relação entre o cigarro e certas doenças graves e informar sobre tratamentos que ajudam quem quer parar de fumar. Para outros leitores, o tema principal poderia ser a existência de interesses escusos entre fabricantes e governos.

Produção de texto a partir do roteiro

Quando você organiza as ideias por temas, você já tem um roteiro quase pronto. Com um pouco mais de polimento, você chega a um roteiro definitivo e pode começar a escrever. Quanto mais você se concentra na produção de um bom roteiro, mais fácil será, depois, seu trabalho de redação. Alguns redatores preferem escrever sobre os temas seguindo a ordem em que aparecem no roteiro. Outros, escrevem sobre os temas em qualquer ordem. Esses fazem como os diretores de cinema, que não filmam as partes do roteiro na sequência, mas conforme as conveniências da produção.

Calcule o tempo em dobro

Para fazer um bom texto informativo, você vai precisar de tempo, bastante tempo. Em vez de reservar dois dias para redigir um relatório de dez páginas, reserve quatro.

Na produção de um filme, as cenas são refeitas até que se consiga o melhor resultado. Com as frases é a mesma coisa. Raramente uma frase sai boa na primeira edição. É preciso reescrever as partes do texto algumas vezes, até que o conjunto fique fácil de ler, correto, harmonioso. Pense no bem-estar do leitor. Corrija, emende, substitua.

O computador  permite reescrever sem dramas. Com um mínimo de esforço, essa máquina maravilhosa corta, cola, inverte, repete, guarda o original, passa a limpo e assim por diante. Isso põe fim às desculpas dos acomodados.

E nunca é demais repetir: para o leitor, texto ruim não tem desculpa, seja cansaço, tristeza ou preguiça. Se o texto está enrolado, o leitor, sim, é quem fica cansado, triste e com preguiça. E aí, adeus informação. Portanto, mesmo sem ser cineasta, não se esqueça do conselho: escreva!

Conte pra mim se esse texto te ajudou e qual a maior dificuldade que você tem na organização de ideias.

Ah! Já ia esquecendo de te contar que uso um programa chamado mindmeister! Ele é excelente para elaborarmos bons mapas mentais, organizarmos as ideias e também a vida!  É isso aí, até o próximo post!